JOSÉ PACULDINO FERREIRA





*Marcelo Valmor


A família Paculdino, conhecida na cidade pelas suas várias atividades, se destacou, desde sempre, com a indústria algodoeira.
A sua origem nos remete a cidade de Vinhais, no norte de Portugal, onde nasceu o seu patriarca, José Paculdino Ferreira. O sobrenome da família, na verdade, seria Ferreira, mas aproveitando o ineditismo de Paculdino, optou por bem se auto fazerem conhecidos como Paculdino Ferreira.
Apesar de não ter dados mais concretos sobre a origem do sobrenome Ferreira, tudo leva a crer que sua história remonta aos chamados Cristãos Novos. Quem seriam e o que faziam esses cristãos? Conta-se que o Estado português, no século XVI, falido e aproveitando da onda protestante na Europa, intensificou a perseguição aos grupos judeus que viviam dentro do seu território.
As conseqüências foram a fogueira para os judeus que não aceitaram a conversão ao cristianismo, e o confisco dos bens dos convertidos e o seu conseqüente batismo. Esses convertidos receberam sobrenomes ligados à profissões, árvores ou frutas, daí os Oliveiras, os Pereiras, e, claro, os Ferreiras, sobrenome que indica uma profissão muito antiga, a dos ferreiros.
Sabemos que nem todos que carregam esse tipo de sobrenome são descendentes dos chamados Cristãos Novos, mas todo Cristão Novo tinha esse sobrenome. No caso de José Paculdino Ferreira, um outro aspecto nos ajuda a compor sua persona, e, conseqüentemente, explicar suas origens: era um hábil negociador, bem ao gosto do mundo árabe/judaico. (Não podemos esquecer que os árabes ocuparam a Península Ibérica, e só saíram de lá no final do século XI, e que os judeus já se encontravam por lá desde que foram obrigados, pelos romanos, a cumprirem, talvez, sua maior diáspora).
Mas como esse homem chegou em terras nacionais? Até pouco tempo antes da minha avó, Floripes Lima Ferreira – sua nora – falecer, as histórias dando conta da chegada do velho português apontavam para toda uma vida sua, quando estudante em Coimbra, envolvido que estava em movimentos políticos, notadamente aqueles de caráter antimonarquistas.
E foi exatamente uma tentativa de destituição do monarca português, no final do século XIX, que selou sua sorte e o trouxe definitivamente para o nosso país. Explico a história. O grupo político ao qual estava vinculado, e que tinha Sidônio Pais – seu professor – como líder, planejara derrubar toda família real portuguesa de forma a impedir a continuidade de uma monarquia decadente numa Europa das Luzes e de desenvolvimento industrial. O responsável pelo atraso português seria, no entendimento do seu grupo, a monarquia. Fracassado o movimento, quase todos eles foram banidos, e a sua sorte foi a cidade de Paris, onde conheceu o cônsul do Brasil naquele país, ao qual se referia como Mata Machado.
Mata Machado, de família diamantinense, estabeleceu amizade com ele e o convidou para chefiar o escritório de uma vinheira em Diamantina. Mas a cidade, como de resto todo o Vale, tem sua geografia composta basicamente por rochas e de terreno impróprio para o cultivo de vinhas. Daí, para se chegar em Montes Claros, que já nessa época era a maior cidade do norte de Minas, foi um pulo.
Por aqui se tornou comerciante e estabeleceu pontos de venda de produtos de toda a sorte nas paradas que o “trem baiano” fazia. Público certo e mercadoria com preço o tornaram um homem rico, além do cargo de fiscal que exercera até se aposentar. O seu falecimento abriu espaço para que seus filhos multiplicassem o patrimônio em atividades diferentes. Enquanto João, o primogênito, foi se ter com a Cia. de Fiação e Tecidos Santa Bárbara, José Paculdino Ferreira Filho – Juquinha – pôs sociedade com a mãe, Geórgia Júlia Baracho Ferreira, num atacadista, formando a empresa Viúva Paculdino & Filhos, além de uma tipografia, e após a morte dela se estabeleceu de vez como dono de cinemas.
Essa história do velho português, como a família sempre se referiu a ele, deu início a um grande grupo social na cidade - os Paculdinos -, e serviu para lhe imprimir algumas características: trabalhadores, discretos, e por isso mesmo avessos à badalação.



*Professor universitário

0 comentários:

Postar um comentário