MONTES CLAROS É ASSIM






*Marcelo Valmor

A nomeação dos novos secretários pelo prefeito eleito nos sugere uma série de reflexões acerca de quem somos e o que representa Montes Claros para todos nós.
Alexandre Viana, Marina Queiroz, Edgard Santos, entre outros, fazem parte de um grupo de homens e de mulheres que poucas cidades desse estado dispõe. Mas a renúncia do primeiro, com a dúvida da segunda, e a saída mais cedo ou mais tarde do terceiro coloca nossa própria formação em questão.
Quem somos? Habitamos uma região que, do ponto de vista do capitalismo moderno, estaria excluída de qualquer tipo de desenvolvimento. Mas o que observamos é uma cidade de quase quatrocentos mil habitantes, pólo de uma região marcada por extrema desigualdade, mas afirmada no valor e numa coragem de um povo que só o Gerais poderia forjar.
Em visita a São Paulo, anos atrás, passamos por cidades que tem a sua geografia mais assemelhada a uma paisagem européia, e fiquei a pensar no tipo de gente que habita aquele lugar, e conclui por um tipo de gente que nem de longe se assemelha aos nossos.
Aqui, desde o primeiro momento, encontramos uma natureza hostil e que precisava de um esforço dobrado para ser dominada. Seca, apesar da terra boa, rios poucos caudalosos (excetuando o São Francisco, que mesmo assim não banha toda a região). Somos, nesse sentido, pioneiros no sentido literal do termo. Não encontramos, como no interior paulista, uma natureza generosa, pelo contrário; da moça feia que era, fizemos dela uma rainha. Tornou-se nossa aliada, casamos com ela. Em outras regiões desenvolvidas, transformaram ela numa serviçal. Aqui nós a amamos. Esse amor está no pequi, na carne de sol, na boa aguardente produzida, na tez morena que carrega a maioria das nossas mulheres, nas nossas manifestações culturais. Somos felizes!
Temos problemas? Quem não os tem? Mas habitamos uma terra de homens e mulheres destemidos, capaz de forjar um Darcy Ribeiro e um Cyro dos Anjos; capaz de fundar uma universidade e fazê-la, em tempo recorde, uma das melhores de Minas Gerais e do país. Isso, estamos falando de nós mesmos.
Pode parecer autopromoção, mas no fundo é isso mesmo. Se tem alguém que pode falar de si mesmo é quem viveu e vive o seu dia a dia.
Mas eis que a cidade, como qualquer outra, tem sido tomada por “estrangeiros”. Não que eles não sejam bem vindos. Mas como qualquer visita eles não podem nos dar ordens. Nossas universidades e nossa representação política tem sido atravessados por esse tipo de gente. E precisamos deles. Mas eles precisam ainda mais da gente.
Deputados e senadores, que nem de longe conseguem explicar o que significa Gerais, pousam e decolam dessa região como se fossem os novos portugueses, a nos ditar um ritmo de vida. E a nossa elite política os adotou como um pai que teve seus filhos perdidos (puro processo de substituição e transferência). Por essas plagas um qualquer vira barão, enquanto os naturais se proletarizam cotidianamente. Fundadores de uma terra que foi entregue a quem não tem um mínimo de amor por ela. Onde estão nossas famílias tradicionais? Onde andam os Velosos, os Paculdinos, os Dias e os Versianis? Seus filhos perambulam pela cidade como se não carregassem essa história que só os seus antepassados deram conta de criar. E ao invés de assumirem o seu destino de fundadores de cidade, preferem entregá-la a quem não é daqui.
O Partido dos Trabalhadores expressa bem essa decadência dos grupos locais. Se batem por migalhas, e deixam o filé para um Virgílio Guimarães e para um Paulo Guedes. Homens bem intencionados, decerto, mas estranhos a todo um tipo de relação política inerente a este lugar.
Voltam-se os olhos contra um natural – Ruy Muniz -, e preferem apoiar um candidato já testado em duas gestões, e que se encontra amparado por aqueles que aqui só chegam para sair em colunas sociais, enquanto que usufruem de todo esse prestígio em outros palácios.
O Movimento Catrumano, a força pessoal de Ruy Muniz, os vários homens e mulheres que habitam essa terra ainda hão de dizer a esses senhores que descendemos de homens briosos, que namoraram a terra, que admiram o sol, mas que não aceitam serem tratados como qualquer um.


*Professor

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